Quem sou eu.
QUEM SOU EU?
Nesta altura da vida já não sei mais quem sou...
Vejam só que dilema!!!
Na ficha da loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando alugo uma casa INQUILINO, na condução PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado CONSUMIDOR.
Para a Receita Federal CONTRIBUINTE, se vendo algo importado CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou MUAMBEIRO, se o carnê tá com o prazo vencido INADIMPLENTE, se não pago imposto SONEGADOR. Para votar ELEITOR, mas em comícios MASSA , em viagens TURISTA , na rua caminhando PEDESTRE, se sou atropelado ACIDENTADO, no hospital PACIENTE. Nos jornais viro VÍTIMA, se compro um livro LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. Para o Ibope ESPECTADOR, para apresentador de televisão TELESPECTADOR, no campo de futebol TORCEDOR.
Se sou corintiano, SOFREDOR. Agora, já virei GALERA. (se trabalho na ANATEL , sou COLABORADOR ) e, quando morrer... uns dirão... FINADO, outros... DEFUNTO, para outros... EXTINTO , para o povão... PRESUNTO... Em certos círculos espiritualistas serei... DESENCARNADO, evangélicos dirão que fui... ARREBATADO...
E o pior de tudo é que para todo governante sou apenas um IMBECIL !!! E pensar que um dia já fui mais EU.
Luiz Fernando Veríssimo.
Para os Góticos
? QUEM SOU EU ?
Quem sou eu, que brinco com as palavras
Tecendo-as com nato romantismo
Forjando poesias ao vento?
Quem sou eu, a caminhar pelas sombras
Respirando meu gótico idealismo
De mãos dadas com o lamento?
Quem sou eu, poeta das águas de março
De frágil, empático coração
A sofrer junto com cada amizade?
Quem sou eu, insano, bruxo, vampiro
Possuo um dom que é também uma maldição
Por quê aos poetas é vedada a felicidade?
Quem sou eu, a pergunta não cala!
Parasita a navegar em minh'alma
Bebendo da tristeza dos piscianos
Quem sou eu, vem a mim e fala!
Já me é impossível manter a calma
Minhas lágrimas rivalizam aos oceanos
Quem sou eu, começo a vislumbrar
Eu sou a fuga, eu sou o caminho
Sou a cacofonia, sou o silêncio
Eu sou a aurora, eu sou o crepúsculo
Eu sou a rosa, eu sou o espinho
Sou Dark Poet, sou Dalto Fidêncio!
DIAS DE INVERNO
Ruas desertas,
calmas e tranqüilas...
Poucas pessoas caminham,
deixando escapar uma fumaça discreta por entre os lábios...
Mendigos gastam suas esmolas em bebidas tentando se aquecer...
Mais pra alguns é inútil, morrem pelas esquinas...
Sozinhos e abandonados...
O vento cortante me causa arrepios
Daqui de cima tudo diminui...
os sons, os problemas, o tempo para... a multidão lá embaixo não é nada...
Uma sombra de poeira no horizonte... nuvens carregadas...
Acho que vai chover...
Não estou muito bem... meu espírito está cansado
Mais as vezes, só algumas vezes, gosto quando me sinto assim
Deixo de me importar tanto com os outros...
E só me importa o que sinto e o que penso...
É bom olhar pra dentro...
Só é difícil de entender...
São tantas coisas...juntas, misturadas, confusas...
24h é pouco...não basta
Essa garoa fina... tímida...
Que vire tempestade.
Gosto quando chove...
Gosto dos pingos da chuva...
Se confundem com o gosto salgado de uma lágrima
O vento leva o que incomoda...
E tudo isso alivia... liberta
Um pouco mais livre... mais leve
Agora posso respirar... profundamente
Deixar o ar entrar... limpo e puro...
E quem sabe me purifique por dentro;
Os outros não pensam assim...
Correm apressados e ansiosos pra chegar em suas casas...
Tirar as roupas molhadas pra não ficarem doentes...
Não me importo com isso...
Perto do bem que me faz, esse mal é o de menos...
E quando a chuva passa é hora voltar...
Pra casa, pra rotina, pro mundo real...
Pra vida normal...
VAMPIROS
Vampiros são violentos, melancólicos, sensuais. São seres amaldiçoados e poderosos.
Para conhece-los é preciso, antes de tudo, ser capaz de saborear o clima de perdição em que se encontram. E então, amá-los.
Da janela de meu quarto ouço os gritos dos gondoleiros.O sol se pôs há alguns minutos e a paisagem tornou-se dolorosamente bela.A cidade-labirinto emerge, soberana, um misto de fascínio e mistério.Envolve completamente os sentidos, liberta a imaginação.
Nos arrebata sem pudor.
Meu olhar vagueia, inquieto, perdido nas ruelas.Por entre colunas e pontes,odores e rostos desconhecidos. Cada entardecer é um chamado.Um convite perpétuo que não se pode recusar.
Hoje sei que nada aconteceu ao acaso.Existem leis contra as quais é impossível lutar.Leis que regem a luz.
Leis que regem a escuridão, de onde nunca mais se regressa.
Sinto que ele prossegue em sua busca tentando romper o abismo que nos separa...Enquanto caminho, terríveis lembranças surgem como fantasmas, assombrando minha alma.
SOLITÁRIOS DA NOITE
A lua,
Soberania dos céus
Derrama seu véu de prata
Sobre o nosso santuário de amor:
Calmo, silencioso, sombrio
Sobre os túmulos,
Contamos estrelas,
Dividimos sonhos,
Fazemos amor...
Esquecendo assim as angustia, amarguras,
Restritas ao mundo da luz
Distante do nosso reino de trevas:
Translúcido, único e sincero
Em eterna quietude,
Calmaria quebrada somente pelo ruído dos ventos
Fazendo a folhagem seca,
Nesse cenário mórbido e brilhante, dançar
Ah, Amada! Única flor em meu destino
Companheira das noites eternas e flébeis
Quando o mundo da luz desmorona em espinhos,
Faz a vida renascer sobre os túmulos...
Um dia Tentei
Tentei ter amigos e alegrias
Mas não consegui
Tentei ter amores, companhias
Mas foi em vão
Tentei um dia me libertar desta masmorra
Que sufoca a alma, que atordoa
Resolvi fugir
Me encontrei
Tentei estar entre seres como eu
Seres noturnos... armaduras negras
Seres amaldiçoados, crucificados
Mas a noite acabou
Um dia tentei
Engolir as lágrimas amargas
Queria ser forte, queria ser fria
Chorar não mais deveria
Um dia tentei
Trancar as portas do coração
Adotar como companhia a solidão
Queria os sentimentos decepar
Um dia tentei
Queria não mais enxergar belezas e sorrisos
Queria não mais ouvir
O ruído dos grilos, o cheiro do absinto, o gosto do vinho,
Tentei um dia ignorar a dor que há em mim
Desejei correr com o vento até desaparecer
Quis me apagar deste lugar
Onde sou quem não sou
O mal estar do estado febril
As Cólicas de melancolia
Um universo vazio
Frio
No corpo meio vivo, meio morto um turbilhão
Emoção
Ansiedade, Revolta... Covardia
Cúmulos de insatisfação... maldição
A dúvida que perturba, que envelhece...
Confusão mental... medo
Uma gota ácida se esvai
Acariciando a face tímida... desolada... sombria
Queria caminhar e não ouvir meus passos
Queria seguir desapercebida
Queria falar e não ser ouvida
Queria não estar aqui
Um dia tentei.